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A Resposta

Por Lino de Albergaria – dezembro 2018

O texto aqui publicado, “A resposta”, de Lino de Albergaria, vem em continuidade à primeira parte, publicada em InComunidade, edição 51.

Na hora do almoço, Ana foi ao correio. Retirou da bolsa a carta que estava ali há uns quatro dias. Nunca tinha tido a certeza se queria mesmo mandá-la. No entanto, estava acabando de pagar pelo selo. Achou bonita a estampa, que não tinha escolhido. Deram-lhe aquele pássaro, que nem reconhecia. Sem óculos, não podia identificar o nome escrito ao lado do desenho, em tipo tão pequeno. Pensou em um pombo-correio, mesmo sabendo que a imagem não era a de um pombo. Colocou o envelope na abertura da parede que já separava a correspondência para outros estados. Ganhando a rua, caminhou entre a multidão da Afonso Pena. Do outro lado da pista, o Parque Municipal. Lembrou-se do parque da Avenida Paulista. Um painel anunciava uma exposição no Palácio das Artes. Sem refletir, atravessou a rua. Olhou a montanha, no final da avenida, que lhe lembrou em que cidade estava. Sabia que ia voltar atrasada ao trabalho, mas mesmo assim demorou-se bastante na exposição. Não eram pinturas excepcionais, mas poder caminhar entre aqueles quadros lhe trazia um agradável conforto.

Amaro Gaetano voltou à editora com o sono que costumava sentir depois do almoço. Ainda não tinham levado sua garrafa de café, auxílio indispensável para fugir àquela modorra. Amontoavam-se à sua mesa provas e originais dos paradidáticos de ciências, há alguns meses sua nova atribuição. Meio inusitado para um professor de geografia que não gostava da sala de aula e a princípio curtia mapas, de todos os tipos. Mas ali não faziam atlas nem enciclopédias, e começou como assistente dos didáticos de geografia. Até que apareceu a oportunidade dos paradidáticos, com uma gama mais ampla de assuntos e uma liberdade de criação maior do que os rígidos manuais escolares. Não entendia muito de plantas ou animais, confundia-se com a classificação das espécies, mas tinha aprendido a acompanhar a feitura dos livros. Admirava as ilustrações, fotos ou desenhos que procuravam imitar a natureza. E achou interessante se aventurar por outra área.

Distraiu-se, olhando a ilustração de uma galáxia em formação, sua favorita, que tinha pessoalmente colado na parede diante do móvel onde colocava a garrafa de café, na verdade uma antiga mesinha de telefone. Se ainda fumasse, um cigarro ajudaria naquele momento. Repetindo um gesto antigo, seus dedos tatearam o bolso do casaco à procura do maço. E encontraram o papel dobrado.

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